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outubro 14, 2010



JORNALISTA ABRE FOGO CONTRA PORCOS

Anderson Duarte dispara contra a baixaria na imprensa teresopolitana
Seja exercendo o jornalismo ou outras funções de comunicação informativa, desde seus primórdios, a imprensa tem atraído a atenção da classe política, que viu nela uma ferramenta de marketing, que pode ser positivo ou negativo, dependendo dos interesses partidários do veículo em questão. Até aí, tudo bem, pois manda quem pode e obedece quem tem juízo, porém em tempos de web, onde qualquer cidadão pode emitir livremente suas opiniões, essa situação acaba se tornando uma faca de dois gumes pois uma vez nas garras da interatividade, malandro tem que rebolar pra “ser o que diz que é”. Teresópolis é um bom exemplo disso, com seus caricatos exemplos de “pseudo-jornalistas” que graças as suas falácias, e em alguns casos também pelo seu histórico marginal, foram rapidamente identificados pelos internautas que souberam separá-los dos que exercem o jornalismo pautados pela ética. 
Seja através da politicagem demagógica eleitoreira ou da exploração do nefasto, a imprensa teresopolitana vem sendo alvo de muitas críticas pelo "público esclarecido" que não compactua com tal baixaria e anseia pela informação livre de tais intempéries. Diante do quadro, faz-se preciso sempre questionar sobre a fonte da notícia, como forma de se precaver das investidas dos desprovidos da ética. Cabe também responsabilizar não só os "pseudo-jornalistas" como também seus padrinhos políticos e anunciantes, que ao patrocinar tal caos, colocam o teresopolitano a mercê desse problema. Pensnado nisso, anos atrás, os internautas teresopolitanos organizaram um movimento contra a baixaria, assunto que foi capa do Jornal O Diário da época e que fez com que a RCA, responsável pelas TVs locais, tomasse providências antes mesmo que a campanha ganhasse as ruas, fato esse que foi comunicado pela própria RCA, em sua revista:
Na época, ficou acertado entre as emissoras e a RCA que a baixaria teria fim. Por algum tempo o telespectador viu o resultado dessa internvenção da direção da empresa, com o uso de tarjas e desfocagens em imagens de conteúdo violento ou que pudessem chocar o relespectador. Apresentadores que se valiam de distorções, difamações e calúnias foram banidos da grade local, tudo como forma de mostrar ao teresopolitano que a empresa não compactua com tais posturas. Porém agora, parece que todo o trato foi esquecido e a situação volta novamente a atingir níveis alarmantes. "Olha só a massa encefálica escorrendo..." - destacou o apresentador ao mostrar sem nenhum tratamento de imagem a cena de uma jovem assassinada com um tiro na cabeça. Vale tudo na famigerada busca da audiência que atende a esse tipo de estímulo por mais nefasto que seja. Sem freios, morro abaixo, não tarda para que o assinante da RCA tenha a seu alcance canais pornográficos, made in Terê. Diante do caos, é comum encontrar pelos fóruns da web teresopolitana ex-assinates da RCA que, decepcionados com tal conteúdo, migraram para a SKY.
Essa semana mais um alerta foi dado, com a publicação de um artigo assinado pelo jornalista Anderson Duarte e que nos foi gentilmente cedido para publicação na web pelo Jornal O Diário de Teresópolis:
O JORNALISMO "PORCO" E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
Anderson Duarte*
Infelizmente volto a falar de um tema delicado e que ainda exige muita reflexão por parte da nossa sociedade, mas duas perguntas são fundamentais para iniciarmos nossa discussão: Será mesmo que vale tudo para conquistar a audiência? Mostrar tudo é o mesmo que informar melhor? Estes questionamentos não são novidades para quem passou pelas bancadas de uma universidade durante a formação superior em comunicação social, aliás, são debates constantes em diversas disciplinas lá trabalhadas.
Mas por que levantamos estas questões? Esta semana que passou tivemos novamente em nossa cidade um possível caso do que a Legislação brasileira entende ser o crime de “vilipendio a cadáver”. O nome parece estranho aos nossos ouvidos leigos, mas para simplificar é a violação do corpo sem vida de diversas possíveis formas. No caso que me refiro esta violação se deu no momento em que uma emissora de TV local exibiu sem nenhum tipo de edição ou tratamento de imagem o momento do trabalho de perícia em uma cena de crime que tinha como vítima uma jovem de apenas 23 anos. Caso este que comoveu a cidade por muitos fatores, sobretudo pela idade da jovem, pela violência da morte e pelas pessoas envolvidas no crime.  
  Pois bem! Inquérito instaurado, envolvidos citados e autoridades de segurança mobilizadas a buscar a punição. Parece que as coisas caminham para a resolução do caso, mas não é tão simples assim. Por isso trouxemos esta discussão neste espaço democrático proporcionado por O DIÁRIO.
Em primeiro lugar é preciso externar que esta não é a primeira vez que este referido canal decorre deste ilícito, inclusive sendo objeto de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) pelo mesmo motivo em anos anteriores. Sabendo disso passamos para a segunda questão e esta sim deve ser o objeto de nossa discussão neste artigo. Será que as rotinas de produção jornalística deste canal seguem princípios básicos do que se espera de uma empresa de comunicação? Já adianto que não! E posso falar com propriedade já que não é de hoje que abordo a questão da morbidez nos conteúdos televisivos, em especial em nossa região.
Em trabalhos acadêmicos que desenvolvi, tanto na graduação quanto na extensão, tive a oportunidade de conceituar este tipo de ação como a legítima prática do “jornalismo porco”. Não que o pequeno suíno tão importante para o sustento de nossa sociedade seja algo depreciável, mas nos valemos da significação coloquial da figura do porco associada ao trabalho feito de forma insatisfatória, ou insuficiente. E com base nesta despreocupação com a qualidade daquilo que é apresentado à audiência partimos para nossa análise deste fato.  
Como sempre, nos apropriamos de conceitos produzidos por grandes teóricos para analisarmos questões de nosso cotidiano e neste caso gostaria de citar o sociólogo Pierre Bourdieu, que em seu livro “Sobre a televisão” faz duras e, de certa forma, merecidas críticas aos jornalistas.
O sociólogo frisa que o prato preferido dos meios de comunicação é a parte sensacionalista onde predominam as histórias com sangue, sexo, drama e crime, uma vez que estes constituem os melhores ingredientes para vender um produto. Bourdieu usa o conceito de “factos omnibus”, fatos que são entendíveis por todos, que não dividem opiniões e são os mais consensuais possíveis.
Muitos profissionais “autodidatas”, ou que pensam ter experiência suficiente para trabalhar com a comunicação, usam o pretexto da simplicidade e expliciteis dos conteúdos para justificar um provável interesse do público. Mas será que o telespectador quer mesmo ver uma jovem de 23 anos morta ao chão como se fosse um simples objeto na tela? É socialmente responsável mostrar este tipo de informação? Quem assistiu a isso está mais informado que quem viu as imagens editadas sem que a jovem fosse exposta?

São questionamentos que nos levam a discussão técnica. A edição, a apuração, a posição de todas as versões envolvidas no fato são quesitos que reunidos por um profissional gabaritado para tal formam uma reportagem responsável e compromissada com os fatos e não com a audiência por si só.
Correndo o risco de nos debruçarmos por tão ‘batida’ discussão sobre a necessidade, ou não, de uma formação superior para a prática jornalística, é quase que inevitável discorrer sobre alguns princípios básicos desta formação. Primeiro o preparo em disciplinas sociais: antes de ser um ator técnico da arte jornalística, um comunicólogo é um cientista social e, portanto, possui uma formação social em multidisciplinas da área de humanas. Ele estuda sociologia, psicologia, filosofia e outras disciplinas que o ajudam a formar um olhar diferenciado da sociedade em que vive, afinal é talvez o maior formador de opinião deste nosso sistema social. Para tal precisa entender e compreender todos os movimentos que nos garantem a coesão em sociedade.
É evidente que só esta formação não garante que o profissional vá conduzir sua vida em atividade como se espera, mas pode evitar muitas situações de conflitos éticos, como o fato de expor imagens de acidentes e corpos sem qualquer preservação da história por trás daquela imagem. Isto é visão social e não se vende em balcões de farmácias, ou se ganha em rifas de quermesses.
Em Teresópolis vivenciamos um fenômeno muito recorrente em cidades em franco desenvolvimento. É comum vermos pessoas que acordam num belo dia e resolvem ser “jornalistas”, mesmo sem possuir o preparo esperado e necessário para tal. A recente e irresponsável disseminação de canais midiáticos promovida nos últimos anos ainda garante esta proliferação de verdadeiros inconseqüentes com microfones em suas mãos. Mas esta pregada liberação da exigência do diploma não chegou a nenhuma grande empresa de comunicação do país, todas, sem exceção, exigem o diploma para a contratação, inclusive O Diário e a Diário TV, que possuem um departamento jornalístico de fato, com responsáveis pelos conteúdos produzidos.

Voltemos ao trabalho “porco” nas coberturas jornalísticas. O despreparo e incapacidade técnica para a atuação em veículos de comunicação culminam necessariamente nestas ações desequilibradas e descompromissadas com a questão social da notícia. Estas características somadas aos interesses políticos explícitos nesta veiculação só podem gerar conteúdos comprometidos com interesses diversos que não o fato de informar o público alvo daquele veículo.
O nível de comprometimento e institucionalização de algumas ‘empresas’ de comunicação da nossa cidade é tão grande que algumas inclusive obedecem ao funcionamento da secretaria de comunicação do município, uma vez que a não produção de releases por parte daquela instituição naqueles dias torna a veiculação destes meios inviável.

Outra característica que se percebe em Teresópolis são os veículos tradicionais e com percurso histórico respeitável que acabam optando, seja por questões financeiras ou ideológicas, por profissionais de gabarito questionável. Sobretudo no rádio, onde hoje impera a indústria do “ouvi falar”, ou seja, mais um exemplo de preguiça dos profissionais que em detrimento da boa apuração, preferem discorrer sobre assuntos que não dominam ou não possuem informações suficientes para discutir, mostrando irresponsáveis posicionamentos em questões pontuais para a cidade. Não é porque seu “colega de bar” lhe disse, que a informação é relevante para a sociedade, nem tampouco corresponde com a verdade.
 Portanto voltamos aos questionamentos iniciais: Será mesmo que vale tudo para conquistar a audiência? Não! Respeitar as histórias por trás das notícias é mais importante que simplesmente publicar uma matéria que vai culminar em boas vendas. Não respeitar os envolvidos e julgar antes da Justiça são erros recorrentes nesta busca pelo ‘furo’ e ineditismo, principalmente por pessoas despreparadas para esta análise dos fatos. Mostrar tudo é o mesmo que informar melhor? Nunca! A quantidade de imagens não predispõe uma reportagem mais completa. A qualidade das informações e a responsabilidade na apuração dos fatos valem muito mais que imagens chocantes e sensacionalistas.
Portanto, mais que acumular informações os teresopolitanos devem analisar quem vos passa tais dados. Esta empresa possui um departamento de jornalismo? O comunicador que lhes passa as informações goza de credibilidade e história para tal? É preciso estar bem informado, mas com qualidade na informação e não no volume delas. Pesquise e entenda o que tem por trás de um sensacionalista. Até a próxima.

* Jornalista e Mestre em Comunicação Social

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ATÉ QUANDO A RCA CONTINUARÁ DE BRAÇOS CRUZADOS?
Seus assinantes continuam cobrando respostas.
Até lá, a SKY agradece o desdém e torce pra que a baixaria continue.

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